No caminho para compreender os desafios que a medicina enfrenta e as transformações que a área da saúde exige, um artigo recentemente publicado por Andrew Elder, presidente do Royal College of Physicians of Edinburgh, levanta um debate essencial e crítico sobre a formação médica contemporânea. O texto, que já reverbera nos corredores das instituições de saúde e entre os profissionais da linha de frente, questiona as visões industriais de produtividade impostas à medicina.
A matéria de Elder destaca a crescente pressão por produtividade em detrimento da qualidade da assistência ao paciente. Segundo ele, as estratégias atuais que impulsionam a formação acelerada e a ampliação do número de médicos e "profissionais associados" são conceitos distantes da realidade dos que atuam diariamente com os desafios da prática médica. O autor argumenta que tal mentalidade se origina de perspectivas políticas, não condizentes com os valores dos profissionais que, pisando os hospitais e interagindo com pacientes, colocam a qualidade do atendimento em primeiro lugar.
Em um exercício de análise crítica, Elder reflete sobre as dificuldades intrínsecas à medicina, que, segundo sua experiência de quatro décadas, apenas intensificaram-se. Ele defende a necessidade de atrair talentos capazes, assegurando que a formação médica seja suficientemente longa, abrangente e intensa para preparar os futuros médicos não somente para as obrigações cotidianas, mas também para a inovação, a pesquisa e a implementação de cuidados de saúde ajustados às necessidades dos pacientes.
O presidente do Royal College enfatiza que, frente à complexidade crescente da medicina, não se pode ceder à complacência de aceitar o "aproximadamente suficiente". A formação deve visar executores de uma medicina embasada no humanismo e na excelência, capacitados a encontrar soluções inovadoras e a conduzir pesquisas que avancem o conhecimento na área.
No panorama brasileiro, já é possível identificar reflexos desta discussão. A AEMED-BR reconhece essa análise crítica como um importante chamado para reflexão sobre a formação médica no país, onde a abertura indiscriminada de faculdades de medicina e cursos de especialização rapidamente tornou-se uma realidade preocupante. Alinhada com as preocupações de Andrew Elder, a associação sublinha que a qualidade do cuidado ao paciente deve ser a força motriz do ensino e da prática médica.
Enquanto o artigo de Elder aponta para a necessidade de um equilíbrio entre a demanda por profissionais e a preservação de standards de excelência na formação, a AEMED-BR destaca a importância de se continuar investindo na qualificação de profissionais de saúde que estejam verdadeiramente capacitados para enfrentar os desafios multifacetados de uma das profissões mais nobres e exigentes.
Ainda resta ver como as instituições de saúde e os órgãos reguladores do ensino médico no Brasil responderão a tais apontamentos e se as tendências atuais serão reavaliadas para garantir a formação de médicos não apenas em quantidade, mas com qualidade e profundidade profissionais.
Confira o artigo na íntegra neste endereço eletrônico:
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